sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

[DOAÇÃO DE MEDULA ÓSSEA] HEMOAP PROMOVE ENCONTRO EMOCIONANTE


Na tarde desta quarta-feira, 24, o Instituto de Hematologia e Hemoterapia do Amapá (Hemoap) registrou o primeiro encontro no Estado entre um receptor de medula óssea e o seu doador. Alguns mililitros de medula óssea foram o suficiente para salvar a vida de Josefa Pujol,  que viajou de São Paulo, capital, para Macapá motivada por conhecer João Vinicius, responsável em salvar a sua vida.
João Vinicius Gaia, hoje com 25 anos, fez o cadastro como doador de medula óssea em 2009, durante uma grande campanha do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME) Amapá. Quatro anos depois, em 2013, o doador recebeu uma ligação onde foi informada a compatibilidade com uma pessoa cadastrada no Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (REREME).
O transplante aconteceu no mesmo ano do contato, no Hospital Albert Einstein em São Paulo. Josefa sofria de mielodisplasia fibrótica. A história pararia aí, como tantas outras espalhadas pelo mundo, porém Josefa fazia questão de conhecer seu “salvador” e então iniciou uma corrida no Inca (Instituto Nacional do Câncer), onde enfim conseguiu autorização, dois anos depois do procedimento.
Logo que conseguiu se restabelecer Josefa amadureceu no coração a vontade incontrolável de conhecer e agradecer pessoalmente aquela pessoa – que até então era apenas um número em seu prontuário. Primeiro foram os telefonemas, as conversas trocadas pela rede social e, enfim, o encontro que aconteceu esta semana em Macapá.
“Quando o médico liberou para viajar, vir a Macapá foi a primeira coisa que eu fiz. Vinícius disse que pra ele é um prazer ajudar, imagina para o receptor. Eu não tenho nem palavras, é uma benção de Deus, uma vida nova”, resumiu Josefa emocionada.
Nem mesmo João Vinícius tinha dimensão do quanto um ato simples pode mudar a vida de outra pessoa. “É gratificante ver que uma doação, que parece tão pouco faz uma diferença tão grande para o paciente receptor e pra família inteira. Algo que pra mim custou alguns dias, mudou a vida dela”, relatou entusiasmado.
O cadastro
Os hemocentros regionais – no Amapá o Hemoap – são responsáveis por cadastrar os interessados em se tornar doadores de medula óssea. Os dados são agrupados em um registro único e nacional (REDOME). Um indivíduo pode ser voluntário para a doação de sangue e/ou medula. O processo de busca do doador é simples e totalmente informatizado.
Fabiano Fonseca, enfermeiro e técnico no REDOME Amapá, explica que este encontro é um marco, pois existem outros voluntários do Estado que já doaram para pacientes no Brasil e em outras partes do mundo, porém não se pode divulgar, pois como os doadores e receptores geralmente permanecem no anonimato não teria como precisar quem recebeu o material sanguíneo. “Este é um acontecimento raro que vai ajudar muito a esclarecer e divulgar nosso trabalho e incentivar outras pessoas a se cadastrarem no REDOME”, disse.
O REDOME no Estado, este ano completa sete anos e não poderia ter melhor presente. “Dona Josefa é nosso exemplo vivo, de que o programa funciona. Mostra que nós amapaenses, podemos, com nossa tipificação genética contribuir para a saúde mundial”, enfatizou Fonseca.
Para aumentar as chances de localização de um doador compatível para um paciente que necessita do transplante é imprescindível manter o cadastro no REDOME atualizado. O doador deve lembrar que irá permanecer no registro até completar 60 anos de idade e que a convocação para realizar a doação pode demorar alguns anos ou nem chegar a acontecer.
“Se não fosse pelo transplante eu não estaria aqui. Se cada um pudesse se inscrever e ter a confiança em doar, imagina quantas vidas seriam salvas”, acrescentou Josefa.
João Vinícius completa: “É importante salientar para o doador que a doção não gera transtorno nem muitos sacrifícios e ajuda imensuravelmente quem recebe”.
O Transplante
João Vinícius imaginou que nunca seria convocado para a doação, porém sempre teve o pensamento de doar, caso alguém precisasse. Quando o REDOME entrou em contato, não titubeou e concordou com a doação, mas quem ficou apreensiva foi a mãe. Vinícius relata que, mesmo na internet não encontra muitas informações sobre como fica o doador após o procedimento. “Minha família, em especial, minha mãe estava muito ansiosa para saber como seria a doação e como eu ficaria. Conseguimos as informações, e a tranquilidade da minha mãe aqui no Hemoap. Fomos esclarecidos que seria algo seguro e que não me colocaria em risco”, disse.
O transplante de medula óssea é um procedimento rápido, como uma transfusão de sangue, que dura em média 2 horas. Essa nova medula é rica em células chamadas progenitoras, que uma vez na corrente sanguínea do receptor, circulam e vão se alojar na medula óssea, onde se desenvolvem.
A coleta de células para o transplante pode ser feita por meio de uma pequena cirurgia, sob anestesia geral, de aproximadamente 90 minutos, na qual são realizadas de quatro a oito punções com agulhas nos ossos da bacia, para que seja aspirada parte da medula. Retira-se um volume de medula de 15ml por quilo de peso do doador. Essa retirada não causa qualquer comprometimento à saúde do doador, que recebe alta no dia seguinte ao procedimento.
Abraçada a João Vinícius, Josefa diz: “Ele agora também é meu pai”.

O REDOME
O Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME) foi criado em 1993, em São Paulo, para reunir informações de pessoas dispostas a doar medula óssea para quem precisa de transplante. Desde 1998, é coordenado pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), no Rio de Janeiro.
Com mais de 3.700 milhões de doadores cadastrados, o REDOME é o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo e pertence ao Ministério da Saúde, sendo o maior banco com financiamento exclusivamente público. Anualmente são incluídos mais de 300 mil novos doadores no cadastro do REDOME. O registro americano conta com quase 7,9 milhões e o alemão, com cerca de 6,2 milhões. Ambos foram desenvolvidos e são mantidos com recursos primordialmente privados.
O Centro de Transplantes de Medula Óssea (CEMO/INCA) é responsável pela coordenação técnica e a Fundação do Câncer pela operação do REDOME, conforme publicado na Portaria nº 2.600, de 21 de outubro de 2009, do Ministério da Saúde.