Na tarde desta quarta-feira, 24, o Instituto de Hematologia e Hemoterapia do
Amapá (Hemoap) registrou o primeiro encontro no Estado entre um receptor de
medula óssea e o seu doador. Alguns mililitros de medula óssea foram o
suficiente para salvar a vida de Josefa Pujol, que viajou de São Paulo,
capital, para Macapá motivada por conhecer João Vinicius, responsável em salvar
a sua vida.
João Vinicius Gaia, hoje com 25 anos, fez o cadastro como
doador de medula óssea em 2009, durante uma grande campanha do Registro
Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME) Amapá. Quatro anos depois, em
2013, o doador recebeu uma ligação onde foi informada a compatibilidade com uma
pessoa cadastrada no Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (REREME).
O transplante aconteceu no mesmo ano do contato, no
Hospital Albert Einstein em São Paulo. Josefa sofria de mielodisplasia
fibrótica. A história pararia aí, como tantas outras espalhadas pelo mundo,
porém Josefa fazia questão de conhecer seu “salvador” e então iniciou uma
corrida no Inca (Instituto Nacional do Câncer), onde enfim conseguiu
autorização, dois anos depois do procedimento.
Logo que conseguiu se restabelecer Josefa amadureceu no
coração a vontade incontrolável de conhecer e agradecer pessoalmente aquela
pessoa – que até então era apenas um número em seu prontuário. Primeiro foram
os telefonemas, as conversas trocadas pela rede social e, enfim, o encontro que
aconteceu esta semana em Macapá.
“Quando o médico liberou para viajar,
vir a Macapá foi a primeira coisa que eu fiz. Vinícius disse que pra ele é um
prazer ajudar, imagina para o receptor. Eu não tenho nem palavras, é uma benção
de Deus, uma vida nova”, resumiu Josefa emocionada.
Nem mesmo João Vinícius tinha dimensão do quanto um ato
simples pode mudar a vida de outra pessoa. “É gratificante ver que uma doação,
que parece tão pouco faz uma diferença tão grande para o paciente receptor e
pra família inteira. Algo que pra mim custou alguns dias, mudou a vida dela”,
relatou entusiasmado.
O cadastro
Os hemocentros regionais – no Amapá o Hemoap – são
responsáveis por cadastrar os interessados em se tornar doadores de medula
óssea. Os dados são agrupados em um registro único e nacional (REDOME). Um
indivíduo pode ser voluntário para a doação de sangue e/ou medula. O processo
de busca do doador é simples e totalmente informatizado.
Fabiano Fonseca, enfermeiro e técnico no REDOME Amapá,
explica que este encontro é um marco, pois existem outros voluntários do Estado
que já doaram para pacientes no Brasil e em outras partes do mundo, porém não
se pode divulgar, pois como os doadores e receptores geralmente permanecem no
anonimato não teria como precisar quem recebeu o material sanguíneo. “Este é um
acontecimento raro que vai ajudar muito a esclarecer e divulgar nosso trabalho
e incentivar outras pessoas a se cadastrarem no REDOME”, disse.
O REDOME no Estado, este ano completa sete anos e não
poderia ter melhor presente. “Dona Josefa é nosso exemplo vivo, de que o
programa funciona. Mostra que nós amapaenses, podemos, com nossa tipificação
genética contribuir para a saúde mundial”, enfatizou Fonseca.
Para aumentar as chances de localização de um doador
compatível para um paciente que necessita do transplante é imprescindível
manter o cadastro no REDOME atualizado. O doador deve lembrar que irá
permanecer no registro até completar 60 anos de idade e que a convocação para
realizar a doação pode demorar alguns anos ou nem chegar a acontecer.
“Se não fosse pelo transplante eu não estaria aqui. Se
cada um pudesse se inscrever e ter a confiança em doar, imagina quantas vidas
seriam salvas”, acrescentou Josefa.
João Vinícius completa: “É importante salientar para o
doador que a doção não gera transtorno nem muitos sacrifícios e ajuda
imensuravelmente quem recebe”.
O Transplante
João Vinícius imaginou que nunca seria convocado para a
doação, porém sempre teve o pensamento de doar, caso alguém precisasse. Quando
o REDOME entrou em contato, não titubeou e concordou com a doação, mas quem
ficou apreensiva foi a mãe. Vinícius relata que, mesmo na internet não encontra
muitas informações sobre como fica o doador após o procedimento. “Minha
família, em especial, minha mãe estava muito ansiosa para saber como seria a
doação e como eu ficaria. Conseguimos as informações, e a tranquilidade da
minha mãe aqui no Hemoap. Fomos esclarecidos que seria algo seguro e que não me
colocaria em risco”, disse.
O transplante de medula óssea é um procedimento rápido,
como uma transfusão de sangue, que dura em média 2 horas. Essa nova medula é
rica em células chamadas progenitoras, que uma vez na corrente sanguínea do
receptor, circulam e vão se alojar na medula óssea, onde se desenvolvem.
A coleta de células para o transplante pode ser feita por
meio de uma pequena cirurgia, sob anestesia geral, de aproximadamente 90
minutos, na qual são realizadas de quatro a oito punções com agulhas nos ossos
da bacia, para que seja aspirada parte da medula. Retira-se um volume de medula
de 15ml por quilo de peso do doador. Essa retirada não causa qualquer
comprometimento à saúde do doador, que recebe alta no dia seguinte ao
procedimento.
Abraçada a João Vinícius, Josefa diz: “Ele agora também é
meu pai”.
O REDOME
O Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula
Óssea (REDOME) foi criado em 1993, em São Paulo, para reunir informações de
pessoas dispostas a doar medula óssea para quem precisa de transplante. Desde
1998, é coordenado pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da
Silva (INCA), no Rio de Janeiro.
Com mais de 3.700 milhões de doadores cadastrados, o
REDOME é o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo e pertence
ao Ministério da Saúde, sendo o maior banco com financiamento exclusivamente
público. Anualmente são incluídos mais de 300 mil novos doadores no cadastro do
REDOME. O registro americano conta com quase 7,9 milhões e o alemão, com cerca
de 6,2 milhões. Ambos foram desenvolvidos e são mantidos com recursos
primordialmente privados.
O Centro de Transplantes de Medula Óssea (CEMO/INCA) é
responsável pela coordenação técnica e a Fundação do Câncer pela operação do
REDOME, conforme publicado na Portaria nº 2.600, de 21 de outubro de 2009, do
Ministério da Saúde.